Canvas de Interdependência

Narrativas modulares que otimizam visões estratégicas

Diego Gonçalves
Accenture Digital Product Dev

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Tudo começa com um problema…

Entrar em projetos novos ou gerenciar um pode parecer um pesadelo pra muita gente: são inúmeras dúvidas e uma casa inteira pra arrumar, ideias pra pôr no papel, organizar cada detalhe para que tudo faça sentido, alinhar visões, expectativas e cenários para vários integrantes do time com formações e funções bem diferentes, colocá-los na mesma página…

Pior ainda é quando o início do projeto é anterior à sua chegada — todo mundo já super entrosado, no embalo das atividades, operando com fluidez e em conjunto com profissionais de outras áreas, squads, etc — enquanto você ainda está entendendo os entregáveis, o histórico da operação e o seu papel no meio de tanto a ser feito. E se além de novo no projeto você também for novo na empresa * vish… * a coisa ganha outra proporção.

Todo mundo tem uma história de terror dessas pra contar, mas a sensação de desorientação vai abrandando com o passar dos anos — falo por experiência própria.

Eu atuo como designer desde 2009 e de lá pra cá passei por segmentos bem diferentes — publicidade, mídia impressa, digital, esportiva, motion, tech, data strategy, branding, etc; e a discrepância entre a natureza desses projetos me exigia uma capacidade de adaptação grande, mas também me trouxe bastante conhecimento técnico, principalmente na área de narrativas.

Foi aí que com o tempo eu percebi que, independente do projeto, havia um fio condutor universal que me fazia questionar sempre os mesmos pontos na mesma ordem cronológica. Portanto, o que eu tinha nas mãos era a oportunidade de criar um framework que aceleraria a minha adaptação em qualquer ambiente de projeto.

Assim nasceu o tal do Canvas de Interdependência! * E eu queria contar um pouco do que há por trás dessa construção… *

A construção

Comecei a elencar os macro tópicos mais importantes e depois os dividi em quatro categorias principais — planejamento, passado, presente e futuro. Dessa forma, a gente conta a história de onde ela realmente veio e termina onde ela precisa terminar pra fazer sentido.

É importante, entretanto, observar que o planejamento, mesmo sendo o marco zero da narrativa projetual, e talvez justamente por isso, é constituído de premissas e dados que vão nortear toda a execução do que virá pela frente, ainda que seja para refutar, revisar, confirmar ou relativizar essas informações, pois tudo que ocorrer depois do dia 01 vai te dar mais conhecimento sobre a jornada que você começou e, com isso, mais base pra criticar o ponto de partida.

O passado é importante porque ele abarca todo aquele espaço de tempo entre o ponto de partida, o já mencionado planejamento, e o dia do projeto no qual você ou alguém da sua equipe — que precisa de orientação — se encontra. É, digamos, o histórico da operação do projeto e de toda a bagagem que veio com ela — ações, consequências positivas, consequências negativas e seus aprendizados. Se “a teoria na prática é outra”, foi aqui que a gente começou a descobrir… e esse conhecimento será valioso pro resto da execução.

o presente é aquela fotografia do agora que situa você e seus pares no status corrente do projeto, lista as ações em andamento dentro da(s) célula(s) e também é quando você precisa ser forte pra colocar dois problemas lado a lado e dizer qual deles é preciso priorizar em detrimento do outro — o famoso trade off. É quando se pesam todas as variáveis, desde o objetivo final do projeto, passando pelos recursos disponíveis para manter os pratinhos girando e chega, por fim, à dura realidade das mais subjetivas escolhas políticas que precisam ser ponderadas diante dos contratempos.

O futuro… é, então, a análise sincera e imparcial do futuro e o maior exercício de * desromantização * possível sobre a viabilidade de executar aquilo que foi planejado versus o que realmente aconteceu até o presente momento. Não dá pra prever o futuro, mas dá pra saber se o projeto tem reais condições de levar adiante tudo que foi imaginado pra ele e, para isso, esboçar um roadmap que leve em conta todos os aprendizados adquiridos na sua jornada e com eles / a partir deles revisar as metas, as métricas de sucesso, os features que compõem a visão de produto e, até mesmo, o objetivo. Por que não?

{ Os planos mudam quando você muda. É natural se questionar, mesmo se for pra fortalecer aquilo que você já tinha imaginado e seguir com mais firmeza.

Na minha visão, o real problema está manter mindsets e processos quando sabemos que eles precisam ser revisitados }

Bem, esse é um pouco do mindset por trás desse canvas, que é colorido porque — de cinza já basta a vida, mentira é porque — assim fica mais fácil de gravar a cadência dos passos seguidos pra montar esse overview de projeto e criar um código cromático para os diferentes produtos e dados que as mais variadas combinações de blocos podem te ajudar a achar, mas disso a gente fala depois…

* Ah! Falando em depois, lá no final do post eu coloquei uma tabelona com perguntas separadas de acordo com cada fase do canvas que podem te ajudar a montar a sua visão estratégica e a coletar dados sobre o projeto. *

Agora sim — Bora falar da leitura geral do canvas?

A leitura do canvas

Quando lido cronologicamente, ele te apresenta sua estrutura básica — planejamento, passado, presente e futuro — de um jeito que você consegue montar uma história na sua cabeça, de onde nasceu o projeto, o porquê, suas metas, a visão geral do produto, todo o desenrolar dele, onde ele termina e quais oportunidades podem se desenvolver a partir dele. Show? Show!

Mas então por que os blocos das primeiras três colunas são coloridos e os da última não?

Por que nem sempre essa parte da história de um projeto precisa ser contada em detalhes pra quem está se ambientando na operação. Ela é mais profunda e pode ficar para uma conversa posterior ou para o dia a dia da operação. Ok, ela é uma coluna importante, mas existem dados mais relevantes para um primeiro momento.

Essa quarta coluna, quando lida do primeiro ao último item, possui uma riqueza de informações muito estratégica para gerentes de projeto, mas assim como outras partes da narrativa, exige que a pessoa que está lendo precise analisar, dentre tudo o que o canvas pode oferecer, aquilo que faz mais sentido para ela absorver diante da sua situação atual.

E essa é a graça do canvas — ele tem sim uma cronologia, mas não precisa ser completado como um álbum de figurinhas; você extrai dele aquilo que corresponder melhor à sua realidade. É sobre isso… e tá tudo bem! (rsrs)

… o que nos leva àquele papo sobre combinações de blocos de informação e seus respectivos produtos.

As combinações de blocos

Cada bloco pode ser encarado como um dado diferente ou um recorte diferente da realidade baseado nos momentos específicos do projeto. Combiná-los é quase alquímico, sempre haverá um produto — ou uma conclusão — interessante a ser analisada sobre essa combinação.

Particularmente, eu tendo a acreditar que muitas delas só serão descobertas com o tempo, umas delas servirão mais para alguns projetos do que para outros, mas no final todos os blocos juntos, em agrupamentos e ordens diferentes podem gerar alguma informação proveitosa diante de algum cenário específico.

Tentei achar algumas e dividi abaixo com você, que teve paciência de ler esse post até aqui. O importante sobre estas combinações de bloco não é seguir à risca uma fórmula, mas sim te encorajar a combiná-las de acordo com a sua criatividade e as suas necessidades, possibilitando conclusões novas sobre fatos já sabidos.

Por fim…

Só queria dizer que tudo que você acabou de ler é fruto de uma mente inquieta e que se agonia facilmente com desordem — de qualquer tipo… é TOC, que chama?

Foi uma necessidade real e autobiográfica que deu origem a esse canvas, a quem eu carinhosamente apelidei de Canvas de Interdependência, pois assim são as narrativas, um amálgama de dados e contextos que se interligam e interferem uns nos outros. Não poderia ser diferente.

Então, na tentativa de manter a nossa mente arrumada diante de tanta informação, essa ferramenta nasceu para escanear projetos de cima a baixo, desenrolar fios lógicos que se conectem com as pessoas e que possam, assim, resgatar o senso crítico que perdemos quando não conseguimos reunir todos os dados possíveis sobre algo que estamos fazendo ou que ainda vamos começar a fazer.

Eu acredito que esse tipo de iniciativa torna o terreno das idéias mais fértil, melhora nossa performance, ajuda na cultura organizacional por meio da proposição de narrativas encadeadas e coesas, acaba com atritos desnecessários meio às engrenagens da nossa mente e nos dá mais prazer em trabalhar e conviver com nossos colegas de equipe.

Espero realmente que esse canvas te ajude e entender melhor os fluxos e operações dos projetos… Algumas pessoas me disseram que ele de fato funciona — as poucas que usaram até então — mas eu também imagino que ele ainda não esteja perfeito, então se você achar uma maneira de aprimorá-lo, testa antes ou me manda um alô — quem sabe a gente não faz isso juntos? E se usar, por favor, manda um feedback, vai.

Abraço e bom trabalho!

[ BONUS TRACK ]

A tabelona que eu prometi!

Dá uma olhada nessas perguntas que eu separei de acordo com cada quadradinho do canvas pra te mostrar que as fases podem ser melhor detalhadas quando a gente se aprofunda nelas…

Mas ó, não se preocupa— O canvas foi feito para, em primeiro lugar, te orientar, então não precisa levar todos estes questionamentos pra uma entrevista com seu líder ou pra uma reunião de onboarding.

O mais importante é entender como cada uma delas — as fases — podem te ajudar a se achar meio a tanta informação em um desenrolar de projeto.

Agora sim— Fui!

Se você quiser trabalhar em um time de product designers inquietos e criativos, dá uma olhada aqui e se candidate a alguma de nossas vagas. Vamos aprender juntos!

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Diego Gonçalves
Accenture Digital Product Dev

Nem Nelson, nem Dias. Meu Gonçalves é de pai, Santos é de mãe, mas também tem Alves e Alvarenga, só não no RG. Designer por formação, escritor por sofreguidão.