Amargo

Diego Gonçalves
1 min readFeb 20, 2021

[ poesia #1 ]

Nessa de nunca me olhar

Acabo eu sempre esquecendo

Vivendo do que acho por aí

Vivendo só e só vivendo…

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Sem nem legado a repartir

É puro andor, não recomendo

Das vidas guardo meu rancor

De recomeço eu entendo

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Mas acho belo esse lance

De gratidão e coisa e tal…

De vez em quando aspirante

À buda, padre ou protestante

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Qualquer coisa que me tire

Essa vontade de chorar

Por ser ainda um cara errante

Olhando a vida a gotejar

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Correndo apenas pra cansar

Enquanto crio esses buracos

Na pista triste e circular

Exausto, puto e pés descalços

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Sem fundamento, sem visão

Do quanto a existência é bela

Tripudiando cada benção

Juntando karma, amargo à beça

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Gosto sim de existir, eu juro

Por mais triste que isso soe

Não é desfeita com nenhum deus

Nem pilha errada de quem agoure

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É só uma sexta-feira merda

De alguém que busca algum nexo

Em viver só, sem depender

Do entorpecer, de droga ou sexo

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E pra quem acha grosseria

Tenta aí, te desafio

A viver desperto, sempre são

Sem se afogar na companhia

-

De amigo, primo ou curtição

De bebedeira, tara, orgia…

Me dá licença que eu cansei

Da rima amarga desse dia

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Diego Gonçalves

Nem Nelson, nem Dias. Meu Gonçalves é de pai, Santos é de mãe, mas também tem Alves e Alvarenga, só não no RG. Designer por formação, escritor por sofreguidão.