Amargo
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[ poesia #1 ]
Nessa de nunca me olhar
Acabo eu sempre esquecendo
Vivendo do que acho por aí
Vivendo só e só vivendo…
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Sem nem legado a repartir
É puro andor, não recomendo
Das vidas guardo meu rancor
De recomeço eu entendo
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Mas acho belo esse lance
De gratidão e coisa e tal…
De vez em quando aspirante
À buda, padre ou protestante
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Qualquer coisa que me tire
Essa vontade de chorar
Por ser ainda um cara errante
Olhando a vida a gotejar
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Correndo apenas pra cansar
Enquanto crio esses buracos
Na pista triste e circular
Exausto, puto e pés descalços
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Sem fundamento, sem visão
Do quanto a existência é bela
Tripudiando cada benção
Juntando karma, amargo à beça
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Gosto sim de existir, eu juro
Por mais triste que isso soe
Não é desfeita com nenhum deus
Nem pilha errada de quem agoure
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É só uma sexta-feira merda
De alguém que busca algum nexo
Em viver só, sem depender
Do entorpecer, de droga ou sexo
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E pra quem acha grosseria
Tenta aí, te desafio
A viver desperto, sempre são
Sem se afogar na companhia
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De amigo, primo ou curtição
De bebedeira, tara, orgia…
Me dá licença que eu cansei
Da rima amarga desse dia